Aspectos Geológicos do Aterro Sanitário de Cuiabá - MT
O texto "Funcionamento de Aterros Sanitários" possibilitou uma noção dos elementos componentes dessa obra e de sua importância ambiental. A partir de agora, trabalharemos um estudo de caso para associar a importância da geologia na implementação desse tipo de obra, usando como base o caso do aterro sanitário de Cuiabá - MT. Vamos lá?
Área de estudo
A área estudada localiza-se a nordeste da área urbana de Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, latitude 15º35’12S e longitude 56º04’16W, como mostrado na Figura 1. O referido aterro situa-se na bacia do rio Cuiabá, principal manancial de água de diversos municípios como Cuiabá e Várzea Grande [1].
Figura 1: Localização do aterro sanitário de Cuiabá.
Fonte: Google Earth (2021).
A área inicialmente era um lixão, logo, as lagoas de tratamento de chorume e a primeira célula de disposição de lixo não foram impermeabilizadas. Este fato despertou uma preocupação em relação à contaminação por chorume proveniente do lixo deste aterro [2].
Em estudo feito por Laureano e Shiraiwa (2008) [1], identificou-se uma possível contaminação do subsolo na área, sendo mais intensa na região das lagoas de tratamento de chorume e nas laterais sul e norte da célula de aterro impermeabilizado. Nos locais onde a deposição de lixo era mais recente, mesmo havendo impermeabilização de base, os valores de condutividade foram mais elevados, podendo ter havido contaminação do subsolo. Ou seja, a impermeabilização pode não ter sido efetiva, permitindo a fuga de chorume através da base do aterro.
Caracterização geológica da área de estudo
O aterro sanitário de Cuiabá se situa nos domínios geológicos do Grupo Cuiabá, pertencente a Faixa Interna de Dobramentos Paraguai, mais precisamente no compartimento geomorfológico denominado “Baixada Cuiabana” [1].
Na Baixada Cuiabana existem dois compartimentos de relevos, representados principalmente por diferenças litológicas. Nas regiões onde predominam metarenitos o relevo possui cotas mais elevadas, devido à resistência dessas rochas ao intemperismo. As regiões adjacentes, compostas na sua maioria por filitos, possuem uma topografia arrasada [2].
O Grupo Cuiabá na região da Baixada Cuiabana é subdividido em 9 Subunidades, sendo a região do aterro sanitário de Cuiabá localizada na Subunidade 5 em contato com a Subunidade 6 [2]. O perfil geológico transversal da área visto na Figura 2.
Figura 2: Perfil geológico transversal do aterro sanitário de Cuiabá
Fonte: Fernandes et al. (2006) apud Laureano e Shiraiwa (2008).
O lado noroeste do aterro situa-se dentro da Subunidade 6, constituída por filitos cobertos por camadas de cascalhos de quartzo e laterita, podendo apresentar fraturas preenchidas por quartzo em alguns pontos. A espessura das camadas de cascalho sobre o filito varia de alguns centímetros a alguns metros [2].
Os filitos são rochas metamórficas intermediárias entre ardósia e xisto na evolução metamórfica de pelitos. Diferentemente da ardósia, o plano de xistosidade é bem definido e brilhante, determinado pela disposição de mica muscovita e clorita principalmente [2]. Considerando que, em geral, as rochas metamórficas apresentam baixa condutividade hidráulica, e sendo o filito a rocha de base da Subunidade 6, pode-se inferir que esse lado do aterro é pouco permeável.
O lado sudeste faz parte da Subunidade 5, constituída de metarenitos, apresentando grande concentração de fraturas preenchidas por quartzo [2]. Os metarenitos também são rochas metamórficas, contudo, devido ao prefixo “meta” no nome dessa rocha, sabe-se que a mesma mantém algumas características da sua rocha de origem - o arenito, que é uma rocha sedimentar [3]. Sendo assim, essa parte do aterro tende a possuir condutividade hidráulica mais elevada, devido à maior permeabilidade e porosidade dessa rocha, sendo, portanto, mais suscetível à contaminação.
Referências
[1] LAUREANO, Andreza Thiesen; SHIRAIWA, Shozo. Ensaios geofísicos no aterro sanitário de Cuiabá-MT. Revista Brasileira de Geofísica, v. 26, p. 173-180, 2008.
[2] LAUREANO, A.T. Estudos geofísicos no aterro sanitário de Cuiabá, MT. Cuiabá, 2007. 149p. Dissertação (mestrado) – Instituto de Ciências Exatas e da Terra, Programa de Pós-graduação em Física e Meio Ambiente, Universidade Federal de Mato Grosso.
[3] Instituto de Geociências - USP. Materiais Didáticos. Rochas Metamórficas. Disponível em: <https://didatico.igc.usp.br/rochas/metamorficas/>. Acesso em: 17 jul. 2021.
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