Desastres Naturais
Os desastres naturais representam um tema cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, considerando o fato destas residirem ou não em áreas de risco. De acordo com a Sociedade Brasileira de Geologia (SBG), só na última década (2011-2021), dados oficiais mostram que o Brasil esteve em 5º lugar entre os países do mundo em número de vítimas associadas a eventos geológicos/geotécnicos, com mais de 41 milhões de pessoas afetadas, e 42 eventos de grande magnitude registrados.
Embora em um primeiro momento o termo desastres naturais nos leve a associá-lo com terremotos, tsunamis, erupções vulcânicas, ciclones e furacões, estes também contemplam processos e fenômenos mais localizados tais como inundações, deslizamentos, subsidências e erosão, que podem ocorrer naturalmente ou induzidos pelo homem. Quando a ação antrópica contribui para a intensificação do desastre, é denominado desastre misto segundo a Defesa Civil Nacional.
Os fenômenos predominantes relacionados a esses desastres no Brasil são tempestades, inundações, enchentes e escorregamentos de solos e/ou rochas, sendo classificados como de dinâmica externa. Estes fenômenos ocorrem normalmente associados a chuvas intensas e duradouras, logo são responsáveis por expressivas perdas e danos de caráter social, ambiental e econômico (Silva, 2011).
Algumas intervenções antrópicas em solos e subsolos são responsáveis pelo aumento dos perigos de estabilização, como por exemplo: desmatamentos, cortes, aterros, alterações nas drenagens, lançamento de resíduos sólidos urbanos (RSU) no solo, além da construção de moradias, que muitas vezes são executadas sem a implantação de infraestrutura adequada. Quando ocorre uma concentração populacional nessas áreas por moradias precárias, os desastres associados aos escorregamentos e inundações assumem proporções catastróficas causando grandes perdas. (Fernandes et. al., 2001; Carvalho e Galvão, 2006; Lopes, 2006; Tominaga; 2007). Na Figura 1 é possível visualizar o deslizamento que ocorreu na cidade de Nova Friburgo, Rio de Janeiro.
Figura 1: Deslizamento de terra em Nova Friburgo - RJ
Fonte: G1
Neste contexto, um dos desastres naturais que ocorreu nos últimos anos no Brasil, foi o desplacamento de uma rocha no Lago de Furnas em Capitólio, no estado de Minas Gerais, mostrado na Figura 2. Este fenômeno geológico é listado entre os chamados “movimentos gravitacionais de massa”.
Figura 2: Desabamento em Capitólio - MG
Fonte: CNN BRASIL
Movimento de massa
O movimento de massa é o movimento do solo, rocha e/ou vegetação ao longo da vertente sob a ação direta da gravidade, geralmente potencializadas pela força da água. A força de cisalhamento é a principal força de tração que causa movimentos de massas, quando esta supera o atrito, ocorre o movimento (Guimarães, et al. 2008)
Os fatores predominantes que influenciam a ocorrência dos deslocamentos em massa podem ser classificados em naturais
(geologia, morfologia, água, vegetação) e antrópicos (execução de cortes e aterros inadequados; concentração de águas pluviais não disciplinadas; lançamento de águas servidas; vazamento na rede de água e/ou esgoto; presença de fossas; lançamento de lixo/entulho nas encostas e taludes; remoção de cobertura vegetal) (Igeológico, 2022)
Dentre os movimentos de massa, se destacam no Brasil:
Rastejos: Movimentação lenta, descendente e constante da massa de solo em uma encosta afetando tanto os horizontes superficiais do solo e a transição solo/rocha, quanto as rochas que estão alteradas e fraturadas (Tominaga et al. 2015).
Escorregamentos: Movimentação rápida de massas de solo e/ou rocha, geralmente com volume bem definido, em que o centro de gravidade do material se desloca para baixo e para fora do talude, seja ele natural, de corte ou aterro. Os tipos de escorregamentos são afetados pela sua geometria e natureza do material que o estabiliza, como escorregamentos planares, escorregamentos circulares, escorregamentos em cunha (IPT, 1991).
Movimento de blocos: são movimentos extremamente rápidos de blocos e/ou lascas de rocha que caem pela ação da gravidade, sem a presença de uma superfície de deslizamento, na forma de queda livre, sendo divididos em 4 tipos: Queda de Blocos, tombamento de Blocos, rolamento de Blocos e desplacamento (IPT, 1991)
Corridas: movimentos gravitacionais na forma de escoamento rápido, envolvendo grandes volumes de materiais. São mais prováveis em períodos de altas pluviosidade, apresentando uma dinâmica dinâmica híbrida, regida pela mecânica dos sólidos e dos fluidos, pelo grande volume de material envolvido e pelo extenso raio de alcance que possuem (até alguns quilômetros), apresentando alto potencial destrutivo.Podem ser classificadas em Corrida de Lama, Corrida de Terra, Corrida de Detritos, dependendo das características do material mobilizado. (Carvalho et al. 2007).
Estes movimentos de massa consistem em importante processo natural que atua na dinâmica das vertentes, fazendo parte da evolução geomorfológica em regiões serranas. Entretanto, o crescimento da ocupação urbana indiscriminada em áreas desfavoráveis, sem o adequado planejamento do uso do solo e sem a adoção de técnicas adequadas de estabilização, está disseminando a ocorrência de acidentes associados a estes processos, que muitas vezes atingem dimensões de desastres.
Referências:
Avaliação geológico-geotécnica em áreas de susceptibilidade à movimentos de massa em Rio Piracicaba (MG) / Laís Emily de Assis. – Viçosa, MG, 2017
CASTRO, Antônio Luiz Coimbra de. Glossário de defesa civil estudos de riscos e medicina de desastres. 1998.
FERNANDES, N. F. et al. Condicionantes geomorfológicos dos deslizamentos nas encostas: avaliação de metodologia e aplicação de modelo de previsão de áreas susceptíveis. Revista Brasileira de Geomorfologia, v. 2, n. 1, p. 51-71, 2001.
Igeológico -Processos de dinâmica superficial e movimento de massa, 9 jan. 2022. Disponível em: <http://igeologico.com.br/processos-de-dinamica-superficial-movimentos-de-massa/>. Acesso em: 28 ago. 2023
MANSUR, Rafaela. Queda de rocha em Capitólio que matou dez pessoas foi 'evento natural', conclui Polícia Civil; ninguém foi indiciado. Portal G1, 2022.
MONTGOMERY & BROWN: ECONOMICS OF SPECIES PRESERVATION, 1992
Infanti Jr. & Fornasari Filho, 1998
PEIXOTO, I. Movimentos de massa: tombamento de blocos, rastejos… -
SILVA, R. T. L.; NISHIJIMA, T. . A Educação Ambiental na Prevenção de Desastres Naturais. Educação Ambiental em Ação, v. 37, p. 37, 2011.
TOMINAGA, L. K. Avaliação de Metodologias de Análise de Risco a Escorregamentos; Aplicação de um Ensaio em Ubatuba, SP. Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo, p. 220. 2007.
TOMINAGA, Lídia Keiko; SANTORO, Jair; AMARAL, Rosangela. Desastres naturais. São Paulo: Ed. Instituto Geológico, 2009.
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