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Consequências da exploração de sal-gema em Maceió

Ruas e imóveis nos bairros Pinheiro, Bebedouro e Mutange em Maceió, Alagoas, foram acometidos por rachaduras e crateras após fortes chuvas e um tremor de terra no início de 2018. Em 8 de maio de 2019, após extenso estudo e longas discussões, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) concluiu que a extração de sal-gema promovida pela Braskem foi a principal responsável pela subsidência dos bairros [1].


Conclusões quanto às causas

Para entender o processo de subsidência do solo em Maceió, foram feitos [2]:

  • levantamentos geológicos e geotécnicos, a partir de sondagens, mapeamentos e análises bibliográficas, para entender a estrutura e a formação do solo da região;

  • análises geofísicas, por meio de batimetria, gravimetria e propagação de ondas elétricas, para averiguar a existência de falhas geológicas ou vazios no subsolo (sejam de origem natural ou antrópica);

  • modelagens 3D, a partir de informações coletadas nas etapas anteriores, para caracterizar a região e fundamentar as conclusões.


A partir desses estudos, a CPRM chegou às seguintes conclusões (para maiores discussões, acesse nosso último artigo) [2]:

  • Os bairros Pinheiro, Bebedouro e Mutange estão assentados sobre uma formação geológica de solo silto-arenoso - um solo mais suscetível a processos erosivos, porém com baixa tendência a colapsar ou expandir. Por isso, descartou-se a ideia de que a geologia local era a responsável pela subsidência dos bairros.

  • Existem falhas e fraturas de origem tectônica sob a região, as quais geram áreas preferenciais para a percolação de água rumo aos aquíferos (reservatório subterrâneo natural de águas). As perfurações para extração de sal-gema interceptaram algumas dessas falhas, contribuindo para sua reativação.

  • A mineração alterou a tensão do maciço rochoso sob os bairros (Formação Maceió, composta majoritariamente por arenitos e clastos ígneos e metamórficos), o que implicou o desplacamento do teto e o colapso de algumas minas.


O processo de mineração

Desde as décadas de 1980 e 1990 são registrados casos de desmoronamento de minas de sal na região. Quando o desmoronamento ocorre ainda na camada de sal, existem técnicas de pressurização e controle passíveis de implementação (as quais foram ignoradas pela Braskem para reduzir gastos com energia); quando o desmoronamento ascende para uma região porosa, a tendência é que ele continue, gerando sinkholes como e de Matarandiba, na Bahia (Figura 1) [3].


Figura 1. Sinkhole causado pela mineração de sal em Matarandiba, Bahia. Fonte: [3].


O tipo de lavra adotado pela Braskem é o de lavra por solução. Inicialmente, poços são escavados sobre a camada de sal-gema, tanto em planos verticais quanto inclinados. Em um poço, injeta-se água, a qual dissolve o sal e permite sua remoção sob a forma de salmoura (solução com alta concentração de sais) por um segundo poço. Um terceiro poço é escavado para controlar e medir a profundidade dos outros poços [4]. Para garantir que não haveria ligações entre os poços de extração, o projeto das lavras delimitava que os pilares entre os poços deveria ter, no mínimo, 75 metros de espessura - o que não foi respeitado e provocou a união de cavidades em cavernas ainda maiores (Figura 2) [3].



Figura 2. Localização das minas da Braskem em Maceió. Em vermelho, as minas que não respeitaram a largura mínima de pilar prevista no plano de lavra. Fonte: [3].


Para entender a distribuição de tensões no subsolo sobre as cavernas de extração, considere o esquema da Figura 1. Exatamente sobre as cavidades, os esforços são majoritariamente verticais, indicando compressão das camadas de solo e rocha. Ao se afastar para as extremidades da zona de extração, os vetores vão se horizontalizando, tracionando as camadas mais superficiais [3].



Figura 3. (A) Representação das tensões ao longo das camadas geológicas sobre as cavernas de mineração de sal-gema. Adaptado de [3].


Como averiguado em Bayou Corne Creek, nos Estados Unidos, a formação de crateras e o afundamento do solo pode ser desviado por falhas geológicas pré-existentes - algo que também foi observado em Maceió - as quais são reativadas pelo novo estado de tensões após a extração do sal-gema [3].


Principais consequências

A movimentação de terra em Maceió está provocando o rompimento de instalações subterrâneas de esgoto e águas pluviais e danificando ruas e bens imóveis [4] (Figura 4). Ao romperem, as tubulações sanitárias e de drenagem liberam líquidos no solo, tornando-o cada vez mais saturado e menos resistente a esforços externos. Já as crateras e as rachaduras que surgem na região representam um risco para aqueles que a habitam, pois comprometem a integridade de pavimentos e edificações. Essa soma de fatores contribui para um intenso êxodo interno na capital alagoana, o qual será compensado financeiramente pela Braskem.

Figura 4. Impactos da subsidência no bairro Pinheiros em Maceió, Alagoas. Fonte: [4].


Inicialmente, o programa de indenizações da mineradora envolvia 17 mil pessoas. Agora, já contempla 65 mil - cerca de 17 mil famílias - com tendência a aumentar. Com a região próxima à lagoa Mundaú deserta, a Defesa Civil de Alagoas propõe que outras 10 mil pessoas dos bairros Flexal de Cima, Flexal de Baixo, Bom Parto e Vila Saem - comunidades pobres no entorno da área afetada pela mineração - também sejam inseridas no programa de compensação financeira da Braskem devido ao forçado isolamento social e econômico [5]. Até maio de 2021, cerca de 50 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas devido à classificação da região como área de risco [6].


Com o abandono maciço das residências - às vezes feito às pressas -, os casos de furtos e arrombamentos na região aumentaram, contribuindo para a sensação de insegurança e para a redução do fluxo de pessoas [4]. Assim, reduz-se também a oferta de serviços básicos de limpeza e aumenta-se o entulho acumulado em ruas e residências - o qual aumenta cada vez mais com os desmoronamentos causados pelos tremores de terra e pelo afundamento do solo.


Referências


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