top of page

O tombamento de blocos em Capitólio e sua geologia

A cidade de Capitólio em Minas Gerais é um ponto turístico muito conhecido por suas paisagens naturais, como mostra a Figura 1. Infelizmente, em janeiro de 2022 houve um tombamento de bloco no cânion no Lago de Furnas, localizado na cidade, o desastre teve como consequência a morte de 10 pessoas, além de 27 feridos. O local do desprendimento de bloco contava com lanchas que transportavam dezenas de turistas, atingindo o total de três embarcações (Amado, 2023).


Figura 1: Lago de Furnas - Capitólio - MG


Após o incidente, especialistas de todo Brasil iniciaram as 7investigações das possíveis causas dessa movimentação de massa e relacionaram com a geologia do local, além de tentar entender se era possível evitar a tragédia ocorrida.


De acordo com o geólogo Flávio Henrique Freitas e Silva, o bloco de pedra do cânion tinha 1,2 bilhão de anos e 10 mil toneladas, e, apesar dos desmoronamentos de rochas serem comuns, a tragédia poderia ter sido evitada com o monitoramento geológico local e a introdução de normas de segurança para o turismo (Leite, 2022).


O tombamento de blocos, mostrado na Figura 2, é um fenômeno geológico listado como “movimento gravitacional de massa” e é condicionado pela presença de fraturas nas rochas, que separam os blocos fragilizados do maciço original. Geralmente, a rocha precisa apresentar fraturas verticais e horizontais em estado mais avançado de alargamento para que um tombamento de tal magnitude ocorra (Paladino, 2022).


Figura 2: Tombamento


Os cânions de Capitólio são essencialmente formados por camadas horizontais de quartzitos, rochas oriundas do arenito. Pelo movimento de placas tectônicas, a rocha sedimentar arenito foi submersa e sofreu uma série de alterações químicas ao longo do tempo e, passou por um evento de metamorfose conhecido como “deformação brasiliana”, que o transformou em quartzito, a rocha naturalmente fraturada que forma o cânion atualmente (Leite, 2022).

Durante sua existência de cerca de 600 milhões de anos, esses quartzitos foram desgastados tanto por pressões internas da Terra quanto por agentes do intemperismo e da erosão (como as chuvas e os ventos), o que lhes rendeu o aspecto fraturado atual. A presença da vegetação, algo muito comum nessas áreas, também colabora para a desagregação das rochas, já que as raízes vegetais procuram umidade e espaços, proporcionados pelas fraturas (Paladino, 2022).


Através do monitoramento geotécnico é possível analisar o nível de instabilidade dessas formações, sendo possível constatar se há risco iminente, alto, médio ou baixo de ocorrer algum tombamento. Caso seja observado risco iminente ou alto existem técnicas para contenção ou desmonte do bloco. Como Capitólio possui rochas grandes recomenda-se desmonte controlado (derrubar o bloco instável) através de técnicas manuais, como alpinismo com vergalhões de ferro, ou com a utilização de explosivos de baixa magnitude (Paladino, 2022).


Idealmente, as análises de riscos deveriam ser feitas anualmente, se dividindo em duas etapas: antes da época de chuvas, para verificar as áreas que estão em risco e fazer o desmonte ou controle, e depois do encerramento do período chuvoso, durante o qual podem ter ocorrido várias trombas d’água e ondas de cheias na área. Dessa forma, a área será caracterizada como segura ou se há novas áreas de risco.


Em nosso país, as diretrizes para o mapeamento e a prevenção em áreas de risco são estabelecidas pela Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, instituída pela Lei nº 12.608 de 10 de abril de 2012. A prática do monitoramento geotécnico de áreas turísticas é insuficiente em todo o Brasil, sendo mais focadas em áreas urbanas, onde há um risco maior por conter uma densidade populacional mais elevada. Por esse motivo, espaços rurais e turísticos não são tão visados e possuem recursos insuficientes para que os municípios elaborem ações destinadas ao monitoramento dessas áreas.



Referências:

AMADO, Aécio. Tragédia no cânion de Capitólio, em Minas Gerais, completa um ano hoje. 2023. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-01/tragedia-no-canion-de-capitolio-em-minas-gerais-completa-um-ano-hoje. Acesso em: 05 ago. 2023.


LEITE, Hellen. Capitólio: rocha tinha 1,2 bilhão de anos e 10 mil toneladas, diz geólogo. 2022. R7 Brasília. Disponível em: https://noticias.r7.com/brasilia/capitolio-rocha-tinha-12-bilhao-de-anos-e-10-mil-toneladas-diz-geologo-09012022. Acesso em: 05 jul. 2023.


PALADINO, Guilherme. Geólogos explicam desabamento de cânion em Capitólio e veem Brasil atrasado em avaliações de segurança de áreas turísticas. 2022. Jornal da Unesp. Disponível em: https://jornal.unesp.br/2022/01/14/geologos-explicam-desabamento-de-canion-em-capitolio-e-veem-brasil-atrasado-no-monitoramento-de-seguranca-de-areas-turisticas/. Acesso em: 05 jul. 2023.


PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA CASA CIVIL. Política Nacional de Proteção e Defesa Civil nº 12608, Dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil - CONPDEC; Brasília, 10 abr. 2012. Disponível em:

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12608.htm


bottom of page