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Histórico da Obra: Aterro Sanitário de Cuiabá - MT

A popularização dos aterros sanitários em grandes cidades do Brasil e do mundo é algo relativamente recente. O município de Cuiabá - MT, por exemplo, passou a contar com aterro sanitário somente a partir do ano de 1997, sendo que nos 15 anos anteriores os resíduos do município eram dispostos no antigo “Lixão de Cuiabá” [1].

Além de propiciar uma melhor disposição final aos resíduos, a implantação do aterro sanitário tinha como finalidade a recuperação da área degradada, anteriormente ocupada pela atividade do garimpo. Assim, os rejeitos enfardados seriam depositados no solo, proporcionando a remoldagem do relevo da área. No mesmo ano, junto com o aterro, criou-se também uma Usina de Reciclagem e Compostagem [1].

A ideia inicial da implantação da obra era de que os resíduos coletados fossem transportados até a Usina de Reciclagem e Compostagem, onde seriam triados e enfardados para posterior acondicionamento na área do aterro sanitário, e esses fardos cobertos com composto orgânico obtido da usina, para fins de revegetação. Logo, o projeto inicial do aterro não previa a impermeabilização de base, tendo em vista que toda a matéria orgânica – principal responsável pela geração de chorume – seria encaminhada à compostagem [2].

Todavia, o projeto não foi executado conforme planejado, o que acarretou na disposição incorreta dos resíduos no solo, que não tinha previsão de impermeabilização. Assim, tanto o solo da primeira célula, quanto as lagoas de tratamento de chorume nunca foram impermeabilizadas [2]. Após o encerramento dessa primeira célula, as demais foram construídas com impermeabilização e sistemas de drenagem de chorume e águas superficiais e de extração de gases para queima [3].

Um estudo realizado em 2008 [4] investigou possíveis contaminações por infiltração de chorume na área do aterro sanitário de Cuiabá, por meio de ensaios geofísicos. O estudo foi motivado pela suspeita de formação de pluma de contaminação nas partes do aterro sanitário que não possuem impermeabilização de base, e buscou determinar a extensão e profundidade da mesma.

Os ensaios geofísicos empregados no estudo consistem em métodos indiretos de investigação, os quais fornecem valores de condutividade elétrica do subsolo. Considerando que o chorume gerado em aterro sanitário é rico em íons, pode-se correlacionar valores elevados de condução elétrica a uma provável contaminação por chorume proveniente do lixo, uma vez que a condução elétrica ocorre principalmente através de íons [5].

Os resultados do estudo apontaram anomalias de condutividade em boa parte da área do aterro, sendo mais perceptível na região das lagoas de tratamento de chorume e nas laterais sul e norte da célula de aterro impermeabilizado, como pode ser observado na Figura 1, que ilustra a condutividade aparente na profundidade teórica de 15 m [4]. Ou seja, nos locais onde a deposição de lixo era mais recente, mesmo havendo impermeabilização de base, os valores de condutividade foram mais elevados, podendo ter havido contaminação do subsolo. Isso indica que a impermeabilização pode não ter sido efetiva e que existem zonas de fuga de chorume através da base do aterro.


Figura 01: Condutividade aparente na profundidade teórica de 15 m.

Fonte: Laureano (2007) [3].


A fim de entender a causa desses resultados, é importante citar que a área conta com um solo argilo-siltoso, classificado com 7,85% de areia, 35,11% de silte e 57,04% de argila [1]. Com relação à formação rochosa, como visto anteriormente no texto de formação geológica, o Grupo Cuiabá, na região da Baixada Cuiabana, é dividido em 9 Subunidades, sendo a região do aterro sanitário de Cuiabá inserida na Subunidade 5 em contato com a Subunidade 6, como mostra a Figura 2.


Figura 2: Perfil geológico transversal do aterro sanitário de Cuiabá

Fonte: Fernandes et al. (2006) apud Laureano e Shiraiwa (2008) [4].

A Subunidade 5, localizada mais ao sul, constitui-se na área mais problemática, pois há presença de metarenito, que possui maior permeabilidade e porosidade, além das fraturas preenchidas por quartzo, oferecendo riscos aos recursos hídricos subterrâneos. Foi evidenciada contaminação nessa área, mas não foi possível saber até onde ia a pluma contaminante devido a dificuldades na aquisição de dados pelo estudo [4].

No lado norte, onde predomina a Subunidade 6, composta basicamente por filitos conglomeráticos, foram realizados muitos ensaios eletromagnéticos indutivos. Próximo às lagoas e ao aterro impermeabilizado os indícios de contaminação foram acentuados, mas a pluma ainda não havia se espalhado muito lateralmente [4].

O acontecido com o aterro sanitário de Cuiabá revela, portanto, que é de grande importância uma impermeabilização bem feita nas bases desse tipo de obra, em especial em áreas onde os materiais geológicos (solos e rochas) apresentam alta permeabilidade. Dessa forma, pode-se evitar que ocorram fugas de chorume e, consequentemente, prevenir contaminação do subsolo e das águas subterrâneas.


Referências


[1] ROHLFS, D. B. Aplicabilidade de metodologia de avaliação de risco à saúde humana em área de disposição de resíduos sólidos: Estudo de Caso do Aterro Sanitário de Cuiabá/MT. Tese de Doutorado. Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro. 224p. 2016.


[2] SANTOS, A.A. Qualidade das águas superficiais e subterrâneas na área de influência do aterro sanitário de Cuiabá- MT. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Física Ambiental, Instituto de Física, Universidade Federal de Mato Grosso. 128p. 2008


[3] LAUREANO, A.T. Estudos geofísicos no aterro sanitário de Cuiabá, MT. Dissertação de Mestrado. Instituto de Ciências Exatas e da Terra, Programa de Pós-graduação em Física e Meio Ambiente, Universidade Federal de Mato Grosso. 149p. 2007.


[4] LAUREANO, Andreza Thiesen; SHIRAIWA, Shozo. Ensaios geofísicos no aterro sanitário de Cuiabá-MT. Revista Brasileira de Geofísica, v. 26, p. 173-180, 2008.


[5] RIGHI, J. A.. Notas de aula da disciplina de Geotecnia Ambiental. 2019.



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